O que as empresas de pescado podem esperar para o 2ª semestre de 2023?
É consenso entre especialistas que 2023 seguirá um ano com muitos desafios para os empresários. Isso porque estamos vivendo no mundo uma série de eventos de impacto global, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito comercial entre Estados Unidos e China e a persistente pandemia da Covid-19.
Este cenário faz com que os investidores estejam mais cautelosos na hora da tomada de decisões e também com que os financiamentos fiquem mais caros. De acordo com a consultoria Dealogic, o mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no Brasil, teve em 2023 seu pior início de ano desde 2020, quando foi afetado pelo choque do início da pandemia.
Conforme o levantamento, feito a pedido do jornal Valor Econômico, o volume financeiro das transações de janeiro a maio deste ano somou US$ 6,1 bilhões, o que representa uma queda de 73% em relação ao mesmo período de 2022. O valor movimentado nos cinco meses iniciais de 2020 foi de US$ 5,7 bilhões, 67% menor em relação ao mesmo período de 2019.
Ainda segundo a consultoria, apesar do início de ano considerado “morno”, a expectativa é de melhora nos próximos meses – nesse cenário, o setor de M&A já dá sinais de reação. Soma-se a isso o fato de que o investidor estrangeiro continua vendo o Brasil como um importante destino para novos aportes.
Para 2023, é esperado que o País continue sendo um dos principais países a receber capital estrangeiro, atrás somente de Estados Unidos e China. “O nível de complexidade está tão elevado que, de fato, os investidores estão mais cautelosos na tomada de decisão. Isso tem motivos claros: o fluxo de informação é gigantesco, a complexidade é alta, o risco sistêmico está elevado e, embora haja liquidez elevada, o medo de errar é grande”, aponta o economista Gilberto Gonçalves, sócio da GL3 Consultoria, que acompanha o setor de pescado há mais de uma década.
Segundo ele, diante deste desafio, a saída para as empresas está em reforçar a governança e diversificar o portfólio, o que às vezes pode significar mais complexidade e dificuldade de controle. “Ser menos ousado e adotar estratégias mais conservadoras é uma postura mais inteligente. Além disso, manter uma estrutura de capital menos alavancada também é uma atitude responsável, em épocas de muita incerteza e volatilidade”, recomenda.
Um caminho para crescer e enfrentar o cenário
Simplicidade e eficiência podem ser adotadas por organizações de qualquer porte e, embora empresas maiores acessem melhor e com mais visibilidade os mercados locais e internacionais, aquelas de pequeno porte nacionais também podem adotar estratégias mais conservadoras e alavancar menos suas operações e, em função disto, ficarem mais resilientes a crises políticas, econômicas, financeiras e de demanda.
Conforme explica Gonçalves, há oportunidades para todos os tipos de apetite. Tudo vai depender da estratégia do investidor e do que ele está buscando. “Cada investidor pode ter interesses distintos em um mesmo momento, ou mesmo interesses distintos
e cenários diferentes. Isto muda muito. A cada hora ele pode querer priorizar uma estratégia.”
A compra da Komdelli pela Frumar, anunciada em abril deste ano, trouxe de volta a possibilidade de maior consolidação das empresas de pescado. Na ocasião, a empresa gaúcha confirmou ter pago R$ 50 milhões para absorver a Komdelli, que enfrenta um processo de recuperação judicial desde 2017, num negócio com bastante potencial, que multiplica a capacidade produtiva da Frumar por 10, atualmente em 80 toneladas por mês.
“O volume estimado para 2023 poderá chegar a 10.000 toneladas e o faturamento do grupo somado deverá ultrapassar R$ 670 milhões em 2023, 66% mais do que no ano passado”, disse o diretor da Frumar, Éderson Krummenauer, quando o negócio foi concretizado.
Hoje muito focada em importações, a Komdelli poderá dar suporte a um plano da Frumar de expandir a atuação para além das fronteiras brasileiras. “Com uma área industrial de 28 mil m2 e área frigorífica de 7,2 mil m2 , a empresa catarinense tem posição logística estratégica, pois fica próxima dos principais portos de cargas e do maior polo pesqueiro do Brasil: Itajaí, o que favorece ainda mais as operações no mercado internacional”, afirmou Krummenauer. Sendo assim, a unidade da Komdelli soma-se a outras cinco da Frumar: em Porto Alegre/RS, São Leopoldo/RS, Passo Fundo/RS, Itapema/ SC e São Paulo/SP.
Parcerias como alternativas a fusão ou aquisição
Fusões e aquisições não são o único caminho possível para as empresas do setor de pescado seguirem o caminho de crescimento ou enfrentamento de crise econômica global. Em 2022, por exemplo, observaram-se algumas movimentações de parcerias estratégicas, comerciais ou industriais.
Uma delas foi firmada entre a Bio Pescados da Amazônia e a Zaltana, principal indústria de tambaqui do Brasil. “Como temos intenção de ser uma empresa com foco na sustentabilidade, sempre pensando em proteger os rios, temos essa iniciativa com a Zaltana para o fornecimento de tambaqui em cativeiro, reduzindo o impacto sobre o tambaqui selvagem e somando forças de comercialização, produção e distribuição”, conta o diretor comercial Armando Corrêa.
A parceria também envolve a parte comercial e de vendas. “Estamos atuando juntos, extraindo o melhor de cada empresa.” Segundo ele, a companhia ainda possui parcerias similares com outros criadores de tambaqui de cativeiro.
A estratégia parece estar surtindo um efeito positivo nas vendas da Bio Pescado, que vem trabalhando para abertura do mercado internacional e já comercializa banda de tambaqui na Colômbia, Peru e, mais recentemente, começou também a embarcar produtos para os Estados Unidos. “A aceitação está muito boa. Estamos trabalhando massivamente no marketing e abertura de pontos de distribuição”, destaca.
Ele confirma que existe a intenção de abrir novos mercados. “Nosso foco é cada vez mais tornar nosso produto conhecido e de forma sustentável, uma vez que sabemos que o segmento de proteína animal, principalmente o do pescado, tem um grande potencial de crescimento.” A expectativa da companhia é fechar 2023 com um faturamento de R$ 40 milhões, crescimento superior a 20% em relação ao ano passado, quando atingiu R$ 32 milhões.
Outro case que movimentou o setor no último ano veio da Frescatto, uma das principais indústrias de pescado do Brasil, que produz 20 mil toneladas de peixe por ano. A companhia sediada no Rio de Janeiro/RJ firmou parceria de co-branding com a norueguesa Mowi.
“É a maior produtora de salmão no mundo, nosso parceiro de longa data que, assim como a Frescatto Company, tem em seu DNA o cuidado com a qualidade e práticas sustentáveis de cultivo. Entre as ações realizadas em parceria com a Mowi, está o desenvolvimento de embalagens e relacionamento com clientes”, relata Thiago De Luca, diretor geral na Frescatto.
Conforme ele explica, a Mowi traz para o negócio toda a sua expertise adquirida no mundo, por meio de muita pesquisa com consumidores, com base em hábitos de consumo. O próprio time da Frescatto segue também sempre avaliando o mercado, com o objetivo de trazer novidades e melhorar a experiência do consumidor com o pescado, democratizando esse consumo.
De acordo com o executivo, a parceria vem rendendo bons frutos. “Apesar de 2023 ser um ano ainda com desafios econômicos, alto desemprego e alta inflação nos pescados, estamos aumentando o número de clientes com os produtos e nos solidificando com os pescados frescos, seguros, sem cheiro e cada vez mais práticos.”
Por Seafood Brasil
Foto: Divulgação