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​Perfil lipídico e a relação com o cultivo de camarões em baixa salinidade


O camarão marinho mais cultivado no mundo, Litopenaeus vannamei, é conhecido por ser um osmorregulador eficiente, tolerando salinidades que variam de 0,5 a 50, de acordo com alguns estudos. Fator esse que contribuiu para que seu cultivo pudesse ser expandido para longe da costa, em águas com baixa salinidade.
 
Contudo, nem sempre o crescimento e sobrevivência de animais cultivados em baixa salinidade (< 5) é tão positivo, uma vez que há um maior gasto energético para os camarões nesse ambiente em virtude da osmorregulação e adaptação. Alguns pontos, como a nutrição por exemplo, podem ser fundamentais para buscar o máximo desempenho dos camarões cultivados em baixa salinidade.
Dentre os três macronutrientes capazes de fornecer energia, os lipídios podem estar intimamente relacionados à osmorregulação, uma vez estes têm maior densidade de energia e muitos ácidos graxos derivados do metabolismo dos lipídios são essenciais para o crescimento normal e manutenção de várias funções metabólicas essenciais nos camarões. Os fosfolipídios e glicolipídios, por exemplo, são componentes indispensáveis ​​da membrana celular, afetando a capacidade osmorregulatória.
 
Nesse sentido, um estudo publicado na Frontiers in Physiology teve o objetivo de elucidar o perfil lipídico tanto nas brânquias quanto no músculo de L. vannamei cultivado em baixa salinidade. O estudo teve duração de oito semanas, e os camarões ( com peso médio de 0,75 ± 0,03 g) foram cultivados em duas salinidades diferentes, 3 e 30 (controle).
 
Dentre os principais resultados, pode se destacar que o ganho de peso dos animais cultivados em salinidade 30 foi maior do que o observado em salinidade 3, o que mostra um melhor desempenho quando os animais são cultivados próximo do seu ponto isosmótico. Quanto a sobrevivência, não houve diferença significativa entre os tratamentos.
Quanto aos lipídeos, um número maior de metabólitos lipídicos diferenciais foi identificado nas brânquias em comparação com o músculo em camarões na salinidade 3 em relação ao camarão controle na salinidade de 30, que pertenciam a 11 e 6 classes de lipídeos, respectivamente. Destes lipídios, fosfatidilcolina, fosfatidilinositol, ácido fosfatídico, fosfatidiletanolamina e triglicerídeo foram os principais lipídios encontrados tanto na brânquia quanto no músculo do camarão, independentemente da salinidade.
 
Os lipídios significativamente alterados foram relacionados à estrutura da biomembrana, função mitocondrial, utilização de ácidos graxos, suprimento de energia ou conteúdo de osmólito orgânico, para melhorar a capacidade osmorregulatória dos animais. Além disso, ficou claro que a brânquia, por seu contato direto com o ambiente, demanda mais energia do que o músculo em condição de baixa salinidade, uma vez que trabalham ativamente na osmorregulação, processo que depende de energia.
 
Por fim, os autores evidenciam que a mudança no perfil lipídico é uma estratégia fisiológica significativa empregada pelos camarões para lidar com o estresse de baixa salinidade, e os resultados encontrados podem fornecer novos insights sobre a importância dos lipídios para osmorregulação de L. vannamei e aprimorar as dietas para estas condições.
 
O estudo completo você pode conferir clicando em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphys.2019.01087/full
Por Aquaculture Brasil
Foto: Divulgação