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80% das espécies aquáticas da Amazônia estão sem proteção, aponta estudo internacional


A biodiversidade de água-doce na Amazônia brasileira permanece ameaçada enquanto as estratégias de conservação estiverem direcionadas somente aos ecossistemas terrestres. Essa é uma das conclusões de um novo estudo da Rede Amazônia Sustentável.
 
Um dos principais resultados da pesquisa, feita por cientistas de Brasil, Austrália, Estados Unidos, Suécia e Reino Unido, é que as iniciativas de conservação com foco somente nas espécies terrestres protegem apenas 20% das espécies de água-doce.
 
“Ou seja, cerca de 80% das espécies que vivem em rios, riachos e lagos ficam desprotegidas. Para enfrentar a crise da biodiversidade aquática, essas espécies precisam ser explicitamente incorporadas ao planejamento de conservação”, analisa a pesquisadora Cecilia Gontijo Leal, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA), primeira autora do estudo.
 
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O cientista Gareth Lennox, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, coautor do trabalho, afirma que, por meio do planejamento integrado, descobriu-se que a proteção das espécies aquáticas pode ser aumentada em até 600% sem redução na proteção das espécies terrestres.
 
“Isso representa uma grande oportunidade para a conservação, e a proteção para um grupo de espécies não requer perdas de proteção para os outros, nem aumentos significativos de custo”, explica.
 
A pesquisa evidencia que, embora importantes para a regulação do clima e como fonte de alimento e combustível paras as populações locais, os ecossistemas aquáticos costumam ser negligenciados nos projetos e ações de conservação.
 
O estudo também indica estratégias para aumentar a proteção às espécies de água-doce por meio de esforços de conservação direcionados às espécies terrestres, como considerar as microbacias e as redes hidrográficas da região.
 
Publicado na revista Science, o trabalho é pioneiro ao integrar informações da biodiversidade aquática e terrestre para ações de conservação ambiental na Amazônia. “Presume-se que as espécies de água-doce serão protegidas incidentalmente - isto é, por acaso, como resultado dos esforços para conservar as espécies terrestres”, afirma Cecilia Gontijo Leal.
 
Análise minuciosa
Os pesquisadores avaliaram mais de 1.500 espécies de água-doce e terrestres em 99 igarapés – canal estreito de rio – e em 377 pontos de estudo na Amazônia. Os principais grupos de espécies aquáticas incluíram peixes, libélulas e invertebrados. Eles também examinaram espécies terrestres, incluindo plantas, aves e besouros rola-bosta.
 
Embora ocupem menos de 1% da superfície da Terra, rios, lagos e riachos abrigam cerca de um décimo de todas as espécies conhecidas - incluindo um terço de todos os vertebrados. Nos últimos 50 anos, as populações de vertebrados de água-doce caíram 83% - mais do que o dobro da queda de vertebrados terrestres e marinhos, que diminuíram cerca de 40% no período.
 
Essa queda na biodiversidade de água-doce tem sido causada, segundo os especialistas, por um conjunto de fatores relacionados à atividade humana, como a perda e degradação de habitat, sobrepesca, ”boom” de algas, construção de barragens e a introdução de espécies não nativas.
 
Conservação planejada
Para a coautora do trabalho Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, uma das instituições coordenadoras da Rede Amazônia Sustentável, novas medidas de conservação são necessárias para garantir maior proteção à biodiversidade aquática.
 
"Ainda temos muitas lacunas de informação em torno das espécies de água-doce, especialmente nas regiões tropicais hiperdiversas. Isso representa um problema para o planejamento da conservação. Mas nosso estudo apontou soluções eficazes para aumentar a proteção aos ecossistemas aquáticos, que são tão importantes para a biodiversidade"
Jos Barlow, professor da Universidade de Lancaster e coautor do trabalho, afirma que, embora o estudo não aborde ações específicas de conservação para espécies de água-doce ou terrestres, ele pode ser usado como um guia para identificar áreas prioritárias com métodos de conservação mais adequados e eficazes.
 
“Nossas descobertas mostram que a conservação que integra diferentes ecossistemas e habitats pode fornecer resultados substancialmente melhores em comparação a abordagens mais restritas”, finaliza.
Por Revista Globo Rural
(Foto: Marizilda Cruppe/Divulgação)