Carregando...

Conheça o arroz, guaraná e tambaqui com Identificação Geográfica


Cada vez mais produtos brasileiros buscam obter o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG), que estabelece que ele possuem certas qualidades graças à sua origem geográfica. A proteção concedida por uma IG, além de preservar as tradições locais, pode diferenciar produtos e serviços, melhorar o acesso ao mercado e promover o desenvolvimento regional, gerando efeitos para produtores, prestadores de serviço e consumidores.


Entre as 51 IGs protagonistas do evento Connection Terroirs do Brasil, realizado em Gramado (RS) no final de agosto, alguns produtos se destacaram na exposição por sua singularidade.


É o caso do arroz Palmares Gold Especial Gourmet produzido em 12 municípios do litoral norte gaúcho, numa faixa de 250 km cercada pela Lagoa dos Patos e pelo mar. Único arroz com Denominação de Origem (DO) desde 2010, uma modalidade das IGs, o grão apresenta características exclusivas de sabor e consistência em decorrência do seu local de origem. Atualmente, é o único arroz certificado pelo selo do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Privada).


Cultivado pelos orizicultores da Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte Gaúcho (Aproarroz) e industrializado e distribuído pela Cooperativa Arrozeira Palmares, o arroz tem maior porcentagem de grãos inteiros e cor branca mais intensa, segundo o presidente da associação, Virgílio Ruschel Braz.

“Isso é possível pela influência dos ventos, da temperatura e da umidade que predominam na região. O vento constante e a quantidade de água na região, pela proximidade com a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, proporcionam clima e temperaturas estáveis, ideais para o cultivo do arroz, sem choque térmico.

Embora a região tenha dezenas de produtores de arroz, só a produção de 20 associados da Aproarroz cumpre todas as normas da IG e pode ter o selo DO, que garante a rastreabilidade do produto. São produzidos 50 mil fardos (sacos de 30 kg) do Palmares Gold Especial Gourmet por ano, que são comercializados no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e parte do Rio Grande do Sul. No total, a Palmares produz 1,4 milhão de fardos de arroz por ano.

Ruschell diz que, apesar da qualidade diferenciada, o arroz com DO não tem preço diferenciado. “O produto é muito valorizado por chefs de cozinha. O que ganhamos é a fidelização do cliente e o reconhecimento da qualidade do nosso produto.”


Um profissional da cozinha que já atestou a qualidade do Palmares foi o chef, agricultor e pesquisador Rodrigo Bellora, que visitou a cooperativa por meio de seu projeto Cozinha Na Natureza. Em nota, ele disse que a cocção uniforme, a textura delicada e o sabor rico são destaques do produto. “ Sem dúvida, a dedicação dos produtores e o terroir da região fazem toda a diferença. A região e a cultura são simplesmente fascinantes.”


Em maio, o município de Palmares do Sul, sede da cooperativa, foi atingido pelas enchentes que causaram muita destruição no Rio Grande do Sul. Águas subiram de 50 cm a 70 cm na cidade, mas a indústria de arroz foi “ilhada” por 650 mil sacos de areia em um trabalho de 24 horas dos funcionários e dos produtores, que disponibilizaram maquinário e bombas para salvar o arroz que já tinha sido colhido e estava armazenado nos silos.


O plano dos produtores do arroz certificado agora é fortalecer a marca no Brasil e também buscar mercado externo. “O arroz gaúcho já é valorizado pela qualidade. Queremos mostrar a singularidade do nosso produto também no exterior. Atualmente, estamos prospectando o mercado de Portugal”, diz Ruschel.

Tambaqui do Vale do Jamari
Outro produto que chamou muita atenção na feira do Connection Terroir vem da região Norte. A IG Tambaqui do Vale do Jamari é a primeira do Brasil que atesta a origem do peixe nativo. Ariquemes e mais 10 cidades de Rondônia têm o selo de Indicação de Procedência (IP) para o cultivo do tambaqui desde setembro de 2023.



Jaqueline Corradi, da Associação de Criadores de Peixe do Estado de Rondônia (Acripar), diz que a entidade de nove anos coordena os processos de produção do tambaqui certificado desde a produção de alevinos, passando pelo cultivo, processamento e logística.

“O tambaqui do Vale do Jamari tem cerca de 500 piscicultores profissionais que trabalham para melhorar o manejo e a técnica de produção. Nosso peixe é rastreado, não tem o gosto de barro peculiar a muitos peixes nativos e o teor de gordura está dentro do padrão.”

A produção é feita em tanques escavados. Os peixes geralmente vão para o abate com dois tamanhos: 2 kg (dez meses) ou 3 kg (um ano). São comercializados inteiros e também em cortes variados.

Guaraná nativo
O waraná (ou guaraná nativo) produzido na terra indígena Andirá-Marau por 380 famílias da tribo Sateré-Mawé conquistou a DO em 2020. A terra indígena demarcada desde 1986 atravessa cinco municípios do Pará e do Amazonas.



O jovem indígena Eliake Oliveira, 24 anos, diz que os velhos sábios da tribo implantaram o modo de produção do waraná com conscientização ambiental e territorial em 1987. A primeira exportação foi feita para Itália pelo mecanismo de comércio justo (fair trade) em 1995, mas na época o beneficiamento e a exportação eram terceirizados.

“Sobrava muito pouco para nosso povo. Isso mudou a partir de 2008, quando a tribo se credenciou para exportar diretamente para Itália e França três toneladas de waraná em pó. Desde então, nosso produto tem valor agregado porque é orgânico e vem da floresta em pé.”

Por Eliane Silva — Gramado (RS) – Globo Rural 
Foto: Divulgação