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Embrapa usa impressão 3D para obter pescados a partir de vegetais
Parece ficção científica, mas não é. Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, desenvolveram protótipos de análogos de pescados impressos em 3D. Similares a caviar, filés de peixe e anéis de lula foram produzidos com características nutricionais e sensoriais, como textura, aroma e paladar, sem o uso de nenhuma matéria-prima de origem animal.
O projeto, com duração de dois anos, é financiado pela The Good Food Institute (GFI), organização internacional sem fins lucrativos, por meio de um chamamento, com um teto de investimento de US$ 250 mil.
O coordenador do laboratório de nanotecnologia da unidade da Embrapa, Luciano Paulino da Silva, afirmou à Globo Rural que a primeira etapa do projeto tratou da seleção de ingredientes de origem vegetal que pudessem substituir — ou mimetizar — os de origem animal.
Para isso, foi preciso comparar o perfil nutricional de peixes, lulas, camarões e até caviar com matérias-primas veganas que podem ser utilizadas para substituí-los, a fim de encontrar equivalências proteicas.
Segundo ele, após a determinação da base, os chamados pulses (leguminosas como ervilha, grão de bico e feijões fava) acrescidos de proteína de soja, é feita uma mistura para que o produto alcance a condição de “printabilidade”. O resultado da mistura é chamado de “tinta alimentícia” e é inserido na impressora tridimensional, que vai garantir as características físicas dos novos alimentos.
Para chegar à coloração idêntica à natural, disse, são utilizados biopigmentos, como cúrcuma e açafrão para um análogo de salmão, por exemplo.
“Produzir um filé de peixe requer um grau de complexidade, porque requer o marmoreio. Nos mais simples, entretanto, como uma bolinha de caviar, basta que você goteje essa tinta alimentícia em um banho de óleo que, fazendo-a se tornar uma espécie de cápsula, ela vai adquirir consistência e textura semelhantes a do caviar”, acrescentou.
De acordo com o pesquisador, reunidos o índice de proteínas e as características sensoriais na tinta alimentícia, acopla-se uma bisnaga com agulha que, camada por camada, esculpe o fac-símile do pescado. Para isso, entretanto, é preciso desenhar, em computador, uma espécie de molde, ou um CAD, como os usados por arquitetos e designers de produtos, para guiar a impressão.
Na avaliação de Silva, o destaque do projeto é seu potencial de customização. Isso porque é possível desenvolver análogos de pescados sob medida para as necessidades nutricionais das pessoas, e uma mesma impressora é capaz de produzir diversos análogos, bastando alterar a programação.
No futuro, disse, a tecnologia poderia até chegar à casa dos consumidores, com a impressora de alimentos 3D sendo um eletrodoméstico, carregado com os cartuxos de tinta alimentar ao gosto do freguês.
“No futuro, a tecnologia pode estar vinculada a um aplicativo de smartphone que já estará alinhado com os exames médicos e monitoramento em tempo real de requisitos de proteína de um indivíduo. Assim, a máquina poderá produzir um bife ou filés adequados especificamente às necessidades desse indivíduo”, vislumbrou.
Para o curto prazo, contudo, Silva espera que startups e iniciativas do setor privado se interessem pela tecnologia, que será disponibilizada para licenciamento. Isso permitirá que a produção ganhe escala industrial e assim, pescados impressos em 3D cheguem às gôndolas dos supermercados.
Silva não enxerga o risco de que produtos como esses pescados sejam uma ameaça à criação de animais para consumo. Mês passado, o deputado federal Tião Medeiros (PP-PR) apresentou projeto de lei para proibir a produção de carne cultivada.
“Definitivamente, ela não compete com outros nichos bem estabelecidos, mas sim traz uma oportunidade, até mesmo uma opção àqueles que desejem se alimentar de proteínas à base de vegetais que tenham conotação semelhante a de peixes”, reforçou o pesquisador.
Por Nícolas Damazio* — São Paulo – Revista Globo Rural
(*Sob a supervisão de Alda do Amaral Rocha)
Foto: Adilson Werneck
O projeto, com duração de dois anos, é financiado pela The Good Food Institute (GFI), organização internacional sem fins lucrativos, por meio de um chamamento, com um teto de investimento de US$ 250 mil.
O coordenador do laboratório de nanotecnologia da unidade da Embrapa, Luciano Paulino da Silva, afirmou à Globo Rural que a primeira etapa do projeto tratou da seleção de ingredientes de origem vegetal que pudessem substituir — ou mimetizar — os de origem animal.
Para isso, foi preciso comparar o perfil nutricional de peixes, lulas, camarões e até caviar com matérias-primas veganas que podem ser utilizadas para substituí-los, a fim de encontrar equivalências proteicas.
Segundo ele, após a determinação da base, os chamados pulses (leguminosas como ervilha, grão de bico e feijões fava) acrescidos de proteína de soja, é feita uma mistura para que o produto alcance a condição de “printabilidade”. O resultado da mistura é chamado de “tinta alimentícia” e é inserido na impressora tridimensional, que vai garantir as características físicas dos novos alimentos.
Para chegar à coloração idêntica à natural, disse, são utilizados biopigmentos, como cúrcuma e açafrão para um análogo de salmão, por exemplo.
“Produzir um filé de peixe requer um grau de complexidade, porque requer o marmoreio. Nos mais simples, entretanto, como uma bolinha de caviar, basta que você goteje essa tinta alimentícia em um banho de óleo que, fazendo-a se tornar uma espécie de cápsula, ela vai adquirir consistência e textura semelhantes a do caviar”, acrescentou.
De acordo com o pesquisador, reunidos o índice de proteínas e as características sensoriais na tinta alimentícia, acopla-se uma bisnaga com agulha que, camada por camada, esculpe o fac-símile do pescado. Para isso, entretanto, é preciso desenhar, em computador, uma espécie de molde, ou um CAD, como os usados por arquitetos e designers de produtos, para guiar a impressão.
Na avaliação de Silva, o destaque do projeto é seu potencial de customização. Isso porque é possível desenvolver análogos de pescados sob medida para as necessidades nutricionais das pessoas, e uma mesma impressora é capaz de produzir diversos análogos, bastando alterar a programação.
No futuro, disse, a tecnologia poderia até chegar à casa dos consumidores, com a impressora de alimentos 3D sendo um eletrodoméstico, carregado com os cartuxos de tinta alimentar ao gosto do freguês.
“No futuro, a tecnologia pode estar vinculada a um aplicativo de smartphone que já estará alinhado com os exames médicos e monitoramento em tempo real de requisitos de proteína de um indivíduo. Assim, a máquina poderá produzir um bife ou filés adequados especificamente às necessidades desse indivíduo”, vislumbrou.
Para o curto prazo, contudo, Silva espera que startups e iniciativas do setor privado se interessem pela tecnologia, que será disponibilizada para licenciamento. Isso permitirá que a produção ganhe escala industrial e assim, pescados impressos em 3D cheguem às gôndolas dos supermercados.
Silva não enxerga o risco de que produtos como esses pescados sejam uma ameaça à criação de animais para consumo. Mês passado, o deputado federal Tião Medeiros (PP-PR) apresentou projeto de lei para proibir a produção de carne cultivada.
“Definitivamente, ela não compete com outros nichos bem estabelecidos, mas sim traz uma oportunidade, até mesmo uma opção àqueles que desejem se alimentar de proteínas à base de vegetais que tenham conotação semelhante a de peixes”, reforçou o pesquisador.
Por Nícolas Damazio* — São Paulo – Revista Globo Rural
(*Sob a supervisão de Alda do Amaral Rocha)
Foto: Adilson Werneck