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Especialista rebate boato de que tilápia seja inimiga de peixes nativos do Brasil
A tilápia é uma espécie que há mais de sete décadas está presente no Brasil. Apesar de muitas dúvidas sobre possível desequilíbrio que poderia ser provado pela introdução da espécie, especialmente na região da hidrelétrica de Itaipu, especialistas garantem que a tilápia não ameaça a sobrevivência de outros tipos de peixe.
“Não é verdade que as espécies de peixes incorporadas à piscicultura brasileira podem acabar com as espécies nativas do lago da hidrelétrica de Itaipu, como divulgado nos últimos dias”, disse o professor Ricardo Pereira Ribeiro, mestre em genética e melhoramento animal, doutor em ecologia de ambientes aquáticos continentais e professor associado do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá.
“Estudos conduzidos por concessionárias privadas e estatais de energia comprovam que, em 20 anos, a participação das chamadas espécies exóticas representa menos de 3% da população de peixes dos lagos de hidrelétricas no Brasil”, complementa o especialista.
Ribeiro informa que “todos os estudos realizados até o momento mostram que as espécies exóticas não causam desastre ecológico nem há epidemia de espécies invasoras na piscicultura brasileira – particularmente nos lagos de hidrelétricas. Segundo ele, em geral, a redução da presença de espécies nativas no país está condicionada a três fatores: alterações ambientais, poluição das águas e sobrepesca .
Segundo a Associação Brasileira da Piscicultura, recente divulgação de informações incorretas sobre as espécies exóticas cita, equivocadamente, a tilápia. “Não se pode dizer que a tilápia seja uma espécie exótica. Afinal, está no Brasil desde a década de 1950. Seria o mesmo que dizer que a raça nelore seja exótica, pois também foi importada da Índia em meados do século passado”, assinala Francisco Medeiros, presidente-executivo da Peixe BR.
Criação de tilápia no Brasil
A criação de tilápia como atividade econômica no Brasil foi motivada principalmente por políticas oficiais, como maneira de fortalecer a piscicultura no país e gerar emprego e renda, especialmente para os pequenos produtores. Atualmente, a espécie representa perto de 60% da produção de peixes de cultivo do Brasil, com 432.149 toneladas, em 2019 – em nível global, o Brasil é o 4º maior produtor de tilápia.
Estudos científicos demonstram que a espécie já está estabelecida no país por suas características fisiológicas. O professor Ricardo Ribeiro destaca que, em um ambiente natural, a tilápia é classificada como fitoplanctófaga, se alimentando de fitoplâncton, encontrados em ambientes com excesso de matéria orgânica.
“Mas não é a tilápia que produz esses resíduos. Ela apenas se aproveita de um ambiente já antropizado, em decorrência da ação humana. O problema é diagnosticado principalmente em lagos municipais, onde atividades sociais e econômicas causam desequilíbrio ambiental”, aponta o especialista da Universidade de Maringá.
Ele cita o exemplo da Represa Billings, na região metropolitana de São Paulo, onde a tilápia se estabeleceu em detrimento de outras espécies nativas. “A poluição e consequente eutrofização foram os fatores-chave para a dizimação dos peixes nativos e proliferação de tilápia, já que esse ecossistema representa as condições ideais para sua sobrevivência”, explica Ricardo Ribeiro.
Itaipu
A situação é inversa no reservatório de Itaipu, que possui vasta fauna de peixes nativos, pois não sofre os problemas ambientais causados pela ação humana observados em outros locais onde há presença da tilápia. “Outro ponto a ser levado em consideração é a alimentação carnívora de grande parte dos peixes nativos como pintado, dourado e jaú”.
“A tilápia não consegue se estabelecer como população reprodutiva nesses locais, pois está abaixo dos peixes nativos na cadeia alimentar. Além disso, ela não tem a capacidade de viver em ambientes naturais. É seguro dizer que no reservatório de Itaipu a espécie não se estabelece porque é predada. E as espécies de maior impacto no ecossistema são as carnívoras”, esclarece o especialista.
“A preocupação dos ambientalistas e do governo deve ser com a poluição das águas, e não com a produção de tilápia, pois é o ambiente que favorece sua reprodução e não sua capacidade de competir com outras espécies”, diz o professor. “A partir do melhoramento genético da espécie, conseguimos hoje um peixe totalmente adaptado para viver em cativeiro. Quando a soltamos na natureza, a tilápia é incapaz de procurar alimento”, ressalta.
Segundo o Censo Agro 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tilápia está presente em estabelecimentos rurais de todos os estados brasileiros. Cerca de 110 mil unidades de produção declararam criar tilápia.
“O crescimento da atividade está diretamente atrelado às características da espécie: é fácil de alimentar, tem fácil reprodução e é resistente a doenças. Além de tolerar bem mudanças de temperatura e água com baixos níveis de oxigênio dissolvido. É um negócio rentável e promissor. Em 20 anos, o Brasil será o maior produtor mundial de tilápia”, completa Francisco Medeiros, da Peixe BR.
“A piscicultura está diretamente ligada à segurança alimentar. A pesca extrativa está estável no mundo há pelo menos uma década. O futuro da alimentação da população mundial passa, necessariamente, pelos peixes de cultivo, como a tilápia”, ressalta Ricardo Ribeiro.
Por Canal Rural
Foto: M. Hasan/FAO
“Não é verdade que as espécies de peixes incorporadas à piscicultura brasileira podem acabar com as espécies nativas do lago da hidrelétrica de Itaipu, como divulgado nos últimos dias”, disse o professor Ricardo Pereira Ribeiro, mestre em genética e melhoramento animal, doutor em ecologia de ambientes aquáticos continentais e professor associado do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá.
“Estudos conduzidos por concessionárias privadas e estatais de energia comprovam que, em 20 anos, a participação das chamadas espécies exóticas representa menos de 3% da população de peixes dos lagos de hidrelétricas no Brasil”, complementa o especialista.
Ribeiro informa que “todos os estudos realizados até o momento mostram que as espécies exóticas não causam desastre ecológico nem há epidemia de espécies invasoras na piscicultura brasileira – particularmente nos lagos de hidrelétricas. Segundo ele, em geral, a redução da presença de espécies nativas no país está condicionada a três fatores: alterações ambientais, poluição das águas e sobrepesca .
Segundo a Associação Brasileira da Piscicultura, recente divulgação de informações incorretas sobre as espécies exóticas cita, equivocadamente, a tilápia. “Não se pode dizer que a tilápia seja uma espécie exótica. Afinal, está no Brasil desde a década de 1950. Seria o mesmo que dizer que a raça nelore seja exótica, pois também foi importada da Índia em meados do século passado”, assinala Francisco Medeiros, presidente-executivo da Peixe BR.
Criação de tilápia no Brasil
A criação de tilápia como atividade econômica no Brasil foi motivada principalmente por políticas oficiais, como maneira de fortalecer a piscicultura no país e gerar emprego e renda, especialmente para os pequenos produtores. Atualmente, a espécie representa perto de 60% da produção de peixes de cultivo do Brasil, com 432.149 toneladas, em 2019 – em nível global, o Brasil é o 4º maior produtor de tilápia.
Estudos científicos demonstram que a espécie já está estabelecida no país por suas características fisiológicas. O professor Ricardo Ribeiro destaca que, em um ambiente natural, a tilápia é classificada como fitoplanctófaga, se alimentando de fitoplâncton, encontrados em ambientes com excesso de matéria orgânica.
“Mas não é a tilápia que produz esses resíduos. Ela apenas se aproveita de um ambiente já antropizado, em decorrência da ação humana. O problema é diagnosticado principalmente em lagos municipais, onde atividades sociais e econômicas causam desequilíbrio ambiental”, aponta o especialista da Universidade de Maringá.
Ele cita o exemplo da Represa Billings, na região metropolitana de São Paulo, onde a tilápia se estabeleceu em detrimento de outras espécies nativas. “A poluição e consequente eutrofização foram os fatores-chave para a dizimação dos peixes nativos e proliferação de tilápia, já que esse ecossistema representa as condições ideais para sua sobrevivência”, explica Ricardo Ribeiro.
Itaipu
A situação é inversa no reservatório de Itaipu, que possui vasta fauna de peixes nativos, pois não sofre os problemas ambientais causados pela ação humana observados em outros locais onde há presença da tilápia. “Outro ponto a ser levado em consideração é a alimentação carnívora de grande parte dos peixes nativos como pintado, dourado e jaú”.
“A tilápia não consegue se estabelecer como população reprodutiva nesses locais, pois está abaixo dos peixes nativos na cadeia alimentar. Além disso, ela não tem a capacidade de viver em ambientes naturais. É seguro dizer que no reservatório de Itaipu a espécie não se estabelece porque é predada. E as espécies de maior impacto no ecossistema são as carnívoras”, esclarece o especialista.
“A preocupação dos ambientalistas e do governo deve ser com a poluição das águas, e não com a produção de tilápia, pois é o ambiente que favorece sua reprodução e não sua capacidade de competir com outras espécies”, diz o professor. “A partir do melhoramento genético da espécie, conseguimos hoje um peixe totalmente adaptado para viver em cativeiro. Quando a soltamos na natureza, a tilápia é incapaz de procurar alimento”, ressalta.
Segundo o Censo Agro 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tilápia está presente em estabelecimentos rurais de todos os estados brasileiros. Cerca de 110 mil unidades de produção declararam criar tilápia.
“O crescimento da atividade está diretamente atrelado às características da espécie: é fácil de alimentar, tem fácil reprodução e é resistente a doenças. Além de tolerar bem mudanças de temperatura e água com baixos níveis de oxigênio dissolvido. É um negócio rentável e promissor. Em 20 anos, o Brasil será o maior produtor mundial de tilápia”, completa Francisco Medeiros, da Peixe BR.
“A piscicultura está diretamente ligada à segurança alimentar. A pesca extrativa está estável no mundo há pelo menos uma década. O futuro da alimentação da população mundial passa, necessariamente, pelos peixes de cultivo, como a tilápia”, ressalta Ricardo Ribeiro.
Por Canal Rural
Foto: M. Hasan/FAO