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Máscaras faciais são desenvolvidas à base de quitosana


Passados quase dois anos de pandemia, período que enfraqueceu bruscamente a economia, muita coisa ocorreu. No início, além de utensílios básicos aos hospitais, o essencial para sobreviver já não chegava mais. Primeiro a falta de leitos, equipamentos que ajudassem pacientes a respirar e logo em seguida, dificuldades com a distribuição de máscaras faciais com o intuito de proteger mais pessoas contra a Covid-19.
 
Graduado em engenharia química, mestrado em química de degradação de polímero e doutorado em biomateriais, o professor responsável pelo Departamento de engenharia de materiais, Marcus Vinicius Lia Fook, relata parte das dificuldades enfrentadas durante período mais emblemático. “Como podemos recordar, o ano passado chegou a faltar o mais elementar, máscaras cirúrgicas nos hospitais, fora aparelhos respiratórios e inúmeros casos registrados gravíssimos pela imprensa brasileira”.
 
“Ainda naquela época, as máscaras que eram vendidas por um preço absurdo eram fornecidas fora de especificação, então, por uma ação do Ministério Público do Trabalho da Paraíba, recomendou que os hospitais públicos pudessem consultar o Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Biomateriais do Nordeste (CERTBIO) para consultar as proteções faciais”, conta o professor.
 
O profissional explicou que parte dos materiais que chegaram ao laboratório foram recuperados usando a tecnologia da quitosana, um material extraído da casca do camarão que dificulta a sobrevivência do vírus.
 
Quitosana
A quitosana é um biopolímero – ou seja, os camarões, assim como todos os exoesqueletos (baratas e gafanhotos), são um conjunto de materiais nutritivos. O professor explica que o animal é abundante em toda a costa do Brasil, e  no nordeste há empresas de descarte de cascas.
 
“A fase polimérica que seria a nossa pele é de um polímero chamado quitina – a casca de camarão é composta por: quitina, carbonato de cálcio, proteína e astaxantina (pigmento). A coloração rosa é a proteína que dá alergia, além de ter uma parte mineral que parece o osso humano com a composição química fundamentalmente de bicarbonato de cálcio. Então o nosso propósito é tirar este polímero chamado de quitina e quitosana, garantindo que todos os outros componentes, principalmente a proteína, saia”, detalha Lia Fook.
 
Máscaras produzidas através de quitosana
As máscaras comercializadas costumam ter três camadas, a camada que fica exposta, a em contato com o rosto e a que fica entre elas. Com a tecnologia brasileira (n95) as máscaras são compostas por no mínimo cinco camadas.
 
Neste caso, a proteção facial mais vendida contém um polímero extraído do material conhecido como TNT, o componente retirado é o polipropileno. Durante a pandemia este elemento ficou em falta. Então o laboratório fez um substituto para este material aplicado no meio da máscara, chamado de elemento filtrante, que foi exatamente a quitosana, já que há conhecimento de que ela inativa o vírus da Covid-19.
 
“A  partir deste TNT comercial nós desenvolvemos uma técnica de modificação da superfície, depois aplicamos com um spray um filme de quitosana, ou seja, fizemos um substituto que compõem este elemento do meio que faltava nas máscaras com casca de camarão”, descreve o engenheiro sobre o processo de desenvolvimento das máscaras.
 
Segurabilidade
As máscaras feitas no laboratório da CERTBIO passaram por ensaios em empresas acreditadas. Além disso, foram desenvolvidos testes com simulações de espirros, para assegurar que os resíduos não ultrapassassem as máscaras e sim, que ficassem presos onde o terreno não era propício para manter o vírus vivo e logo, morriam.
 
Sendo assim, os testes para a segurabilidade dos produtos passam por duas etapas, o teste em pessoas e também os testes feitos em laboratórios acreditados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
 
Lia Fook ressalta que no nordeste não há laboratórios autorizados e, por este motivo, precisaram fazer os ensaios fora do Estado. “Nós não temos no nordeste laboratórios acreditados, então mandamos fazer fora da região, e comparamos o resultado do laboratório acreditado com o nosso. Então os ensaios que nós fizemos precisam ser acreditados, pois apresentam um bom desempenho de retenção do vírus, de retenção de partículas sobre as normas e sobre a condição de respiração”.
 
Sustentabilidade e Economia
Segundo o professor, o projeto desenvolvido é de extrema importância sustentável e economicamente viável. “Cada parte desse resíduos tem aplicação comercial e industrial, como dito antes, a quitina se transforma em quitosana por conter suplementação de cálcio. Esse bicarbonato de cálcio é um suplemento de cálcio de origem biológica, ou seja, biodegradável e o pigmento é um poderoso antioxidante, além de ser caríssimo, ele é mais poderoso que a vitamina C”.
 
“A estrutura química da quitosana e da quitina é muito parecida com a celulose da madeira. Enquanto um é de origem vegetal o outro é de origem animal. Diferente dos produtos que chamamos de origem fóssil derivado do petróleo, um componente muito agressivo ao meio ambiente, demorando anos ou até décadas para serem degradados e absorvidos.  Entretanto, a quitosana depois de descartada não demora nem 60 dias para ser absorvida, se torna nutriente da terra”, salienta o profissional.
 
De forma orgulhosa, o professor explica que ter uma tecnologia disponível no Brasil com matéria-prima sustentável e econômica são motivos de satisfação.
 
Para o futuro
Com muita expectativa o professor, Lia Fook explica que, o projeto visa ser ampliado para as redes privadas de saúde, pois atualmente atende o Sistema Único de Saúde (SUS); além disso, a pesquisa tem sido estendida a outros produtos como, fio de sutura, álcool em gel e curativos para úlceras diabéticas.
 
Outros produtos a base de quitosana estão em desenvolvimento para serem usados tanto dermatologicamente quanto na ortopedia. O professor também desataca que, “a última fronteira em que o homem está conhecendo é o cérebro e nós já temos um produto desenvolvido. Costumo brincar que os animais não morreram”. O produto desenvolvido pelo laboratório é para ajudar em neurocirurgias.
By  Feedfood/  Ana Catarina Veloso, de casa
Foto: Divulgação