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Piscicultura: saiba quem é o maior produtor de dourado do país


Caminhar pela propriedade do piscicultor Simão Brun, em Terenos (MS), dá a dimensão das atividades desenvolvidas no local. Com cerca de 70 tanques que somam aproximadamente 40 hectares de água, a área abriga o Projeto Pacu - maior produtor de dourado no Brasil e ganhador do Prêmio Inovação Aquícola 2019.
Localizado na área rural do município que fica a 30 km de Campo Grande, o projeto é uma referência na produção de peixes sul-americanos, na geração de tecnologias para novas espécies e no aprimoramento de tecnologias já existentes.
 
“Somos pioneiros no desenvolvimento de técnicas de reprodução de várias espécies de peixes brasileiros”, conta Simão, que é diretor do Projeto Pacu.
 
A iniciativa teve início em 1987 e desde então já foram desenvolvidos mais de 25 protocolos de reprodução e de criação de espécies nativas. Hoje, a empresa tem como carros-chefes a produção de pintado real, com melhoramento genético realizado por meio do projeto, e de dourado, usado no controle biológico de alevinos de tilápia.
 
A produção anual da propriedade foi de 4 milhões de alevinos de dourado e pintado - 50% de cada espécie - em 2022/23, com estimativa de saltar para 5 milhões na safra atual (2023/24), que teve início em novembro.
 “Temos mercado, capacidade e estrutura para isso. A produção de tilápia vem crescendo muito no Brasil e estamos acompanhando esse cenário”, afirma o produtor.
Segundo Simão, o maior mercado do Projeto Pacu está no Paraná - principal região produtora de peixe em tanque escavado do país -, com 70% das vendas. O Estado é líder na produção de tilápia, com mais de 34% do volume nacional, segundo o Anuário 2023 da Piscicultura, elaborado pela Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). O restante da produção do projeto vai para São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A empresa também mantém distribuidoras nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, com comercialização do pintado (80%) e do dourado (20%).
 
 
Além dos tanques, a estrutura da propriedade conta com laboratório de reprodução, com 90 incubadoras para alevinagem. Os produtores de peixe podem adquirir tanto as larvas quanto os alevinos.
 
Parte da estrutura da área foi construída com recursos viabilizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). No restante das ações, o local tem 100% de investimento privado. Para o diretor, “a piscicultura no Brasil tem altos e baixos, mas há um amadurecimento do setor e vale o investimento, considero uma atividade rentável” diz, sem revelar números.
 
A pesquisa está no DNA do Projeto Pacu. Ao longo dos anos de atividade, técnicas de reprodução de peixes nativos brasileiros foram desenvolvidas e aprimoradas no local. Foi assim com o protocolo operacional de controle biológico de alevinos de tilápia por meio de peixamento com dourado em viveiros de engorda, que deu à empresa o Prêmio Inovação Aquícola.
 
Simão conta que tudo começou há 10 anos, quando a Cooperativa Copacol Agroindustrial, no Oeste do Paraná, levou ao Projeto Pacu a necessidade de solução para o problema gerado pela reprodução das tilápias na engorda. Ele lembra que foram realizados testes com vários peixes até que identificaram que o dourado atacava os lambaris em um dos lagos da propriedade.
 
 
“A Copacol foi a primeira empresa a produzir a tilápia em grande escala e hoje o protocolo que desenvolvemos para eles, com a utilização do dourado para o controle biológico na produção de tilápia, é adotado por outras grandes empresas do setor”, explica.

 
Em um tanque de piscicultura com 50 mil tilápias para engorda, entre 2% a 8% permanecem fêmeas e com dois meses de vida essas tilápias estão aptas à reprodução. Em pouco tempo serão 50 mil peixes de engorda misturados com outros 50 mil que não são de engorda. Simão acrescenta que eles acabam gerando prejuízo porque consomem oxigênio, ração e energia elétrica para a produção de mais oxigênio.
 
O dourado se alimenta dos alevinos e larvas de tilápia desovadas. Para o controle populacional de desovas indesejadas, a quantidade de dourado indicada é 1% da quantidade de tilápias. Por exemplo, em um tanque com 50 mil tilápias de aproximadamente 40 gramas cada, devem ser acrescentados 500 dourados de aproximadamente 2 gramas cada.
 
“É um excelente investimento, pois quando a tilápia desova, por instinto o dourado se alimenta dos alevinos e promove o controle populacional”, explica o piscicultor.
 
O papel biológico do dourado tem refletido, de acordo com informações do Projeto Pacu, em indicadores positivos na cadeia produtiva de tilápia, como a melhoria na conversão alimentar, a diminuição do ciclo de cultivo, a uniformidade de lotes e o aumento de rendimento de filé.
 
Dourado e pintado real
O Projeto Pacu destaca que o dourado, chamado de “rei dos rios”, além de eficiente para o controle de espécies indesejáveis, é considerado como opção de fonte de renda para propriedades rurais que investem em piscicultura. Possui características como crescimento rápido, de grande porte e de alto valor de mercado.
 
Já o pintado real, outra espécie comercializada pela propriedade, é uma linhagem exclusiva desenvolvida pelo Projeto Pacu, que pode alcançar até 2 kg em apenas 7 meses. Entre as características listadas da espécie estão a precocidade, a resistência e o alto desempenho na produção, com melhores taxas de crescimento em diferentes regiões e épocas de cultivo.
 
 
São cultivadas no espaço, em menor escala, outras espécies de peixes como pirarucu, pirarara, pintado gaúcho e redondos.
Exportação
O know-how de quase 37 anos na piscicultura agora será ampliado para a exportação de peixes ornamentais. Simão conta que entre os projetos para 2024 está a entrada no mercado internacional com produção de espécies ornamentais não reproduzidas normalmente no Brasil. Entre elas estão os peixes tetra e os de couro, com vistas a fechar negócio com países asiáticos e europeus.
 
“Será uma mudança de cara na nossa empresa”, diz o diretor. Inicialmente, a meta é reproduzir 50 espécies nativas para esse segmento.
 
O projeto conta com orientação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) e, segundo Simão, a construção da estrutura para os peixes já está em construção. Essa não será a primeira tentativa de ingressar nesse mercado, já que a propriedade realizou, no passado, exportação de peixes nativos para países como China e Alemanha. As negociações com o novo mercado, de peixes ornamentais, já tiveram início e a previsão é começar o ano novo com as exportações a todo vapor.
 
Simão revela ainda que um projeto de pesquisa em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande, resultará no lançamento, no próximo ano, de um contador inteligente de peixes. O equipamento eletrônico tem funções para contar, medir e dar a estimativa de massa da produção, facilitando as informações para relatórios de criadores. “É um projeto inovador e a ideia é comercializar o produto num futuro próximo”, comenta.
 
Por Carolina Mainardes — Terenos (MS)*
Foto: Wenderson Araujo/CNA
*A jornalista viajou a Terenos (MS) à convite da CNA. A visita ao Projeto Pacu integrou a programação do Intercâmbio Agrobrazil