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​Rações adequadas para espécies nativas



Todos sabemos que a piscicultura brasileira vem crescendo nos últimos anos. Segundo o anuário da PeixeBR de 2019 a produção anual passou de 578 mil toneladas em 2014 para 722 mil toneladas em 2018, sendo aproximadamente 40% de peixes nativos, com o tambaqui liderando essa produção. Agora, será que esse volume de produção já justificaria a fabricação de dietas específicas para espécies nativas, em particular para o tambaqui? Revisando o portfólio de algumas empresas de rações brasileiras, nota-se que existem dietas específicas para espécies como tilápia e truta, porém para as espécies nativas a disponibilidade é mais restrita. Dentro desse cenário surge uma pergunta: qual é o modelo de dietas mais adotado para espécies nativas? A resposta consiste no desenvolvimento de dietas baseadas em níveis tróficos, ou seja, o nível de carnivoria das espécies (omnívoras, herbívoras ou carnívoras), o que não é ideal do ponto de vista produtivo pois, como sabemos, diferentes espécies possuem exigências e demandas nutricionais específicas. Trata-se, porém, de um modelo que faz sentido do ponto de vista nutricional quando nos referimos a espécies com poucas informações nutricionais disponíveis. Em minhas colunas anteriores já mencionei que o nível de carnivoria é um dos modelos adotados para prever as exigências e demandas nutricionais. Por exemplo, quando queremos generalizar a exigência de ácidos graxos das espécies, o modelo baseado no nível de carnivoria se mostra uma das melhores alternativas para prever tais exigências. Num cenário de produção crescente, chegará um momento em que a indústria de fabricação de alimentos aquícolas produzirá dietas específicas para espécies nativas e o tambaqui provavelmente será uma das primeiras espécies. Acredito que estamos trilhando esse caminho. Vale ressaltar que as empresas de ração possuem toda capacidade de produzir rações específicas de qualidade, porém o volume de demanda e os altos custos de produção associados sempre serão um desafio e o fator determinante para essa mudança. Claro que todos os membros da cadeia produtiva devem contribuir em prol da atividade, e nesse exemplo não é diferente. Assim, é bastante importante que as universidades continuem desenvolvendo pesquisas, avançando o conhecimento nutricional das espécies nativas, porém sempre lembrando do impacto que a pesquisa trará para a indústria.
 
 
 
 
 
 
Infelizmente, esse é um tópico bastante controverso e comum em todo mundo. São poucas as universidades e centros de pesquisas no mundo que produzem ciência focada em causar um impacto positivo na indústria. Uma ilustração da importância do que estou dizendo é o projeto de pesquisa BRS AQUA, mencionado no anuário da PeixeBR que trará a nutrição como um dos pontos principais, buscando avançar as particularidades nutricionais de cada espécie, dentre as principais espécies produzidas no Brasil, em diferentes fases do ciclo de produção.
 
Devemos ter em mente que esse cenário não significa que os produtores não estejam utilizando rações específicas. Atualmente existem empresas de alimentos aquícolas menores que se especializam em fabricar alimentos únicos atendendo as exigências do cliente. Outro exemplo é a atuação de consultores para o desenvolvimento de formulações adequadas para certas espécies. Fonte: Aquaculture Brasil
 
Independente da maneira pela qual o alimento aquícola será produzido, é importante a continuidade em estudos nutricionais dessas espécies-chave, uma relação saudável produtor-indústria de fabricação de ração-universidade/ centros de pesquisa e divulgação dos trabalhos nutricionais desenvolvidos. Espero ter contextualizado de maneira simples e direta o cenário dos alimentos aquícolas para as espécies nativas.